Deveríamos estar por volta
do ano de 1976. Éramos adoráveis adolescentes do segundo científico, ávidos por fazer
qualquer coisa que contrariasse alguém ou ao cotidiano.
Lá pelas tantas tivemos a idéia de fazer um jornal. Havíamos vencido as eleições para
o Grêmio Estudantil, com o Pery Faria do Brasil Salgado para Presidente eu para vice e
outros mais. A Lygia Maria Botelho Ayub nos passou o cargo. Não me lembro se tinha outra
chapa e quem eram os adversários.
A idéia do jornal (acho) não agradou muito a todos da direção, mas com espírito
democrático até elevado para a época, D.Eliana permitiu a obra, desde que suportassemos
censura prévia (nunca nada foi cortado por ela). Por falta de dinheiro o jornal se tornou
mural, afixado no fundo do pátio, de frente para as quadras de esportes. O jornal mesmo
não tinha lá muito conteúdo, política nem pensar, pois ainda estávamos respirando a
ditadura, ouvindo ainda recatados apelos pela abertura. Mas o interessante da
estória-história seria o nome. Qual nome dar ao jornal?
É necessário recordar a geografia de nosso colégio. Dominando todo o pátio de recreio
ficava imponente, não pelo luxo que não existia mas pela privilegiada posição de
fiscalização do miolo do colégio, o gabinete da D.Eliana. Verdadeiro Gibraltar
controlando o Mediterrâneo (shiiiiiii....).
Tal guarita não poderia ter a visão encoberta por cortinas ou outros adereços, ficando
impecavelmente desobstruída com suas janelas de vidro a mirar o coração do Franco.
Chamávamos tal sala envidraçada (e este apelido não nasceu na minha época mas vinha de
muito), maliciosamente, de aquário, pois enquanto seus ocupantes tinham a noção de
domínio do pátio, para os de fora, ficava a impressão de um aquário com seus
habitantes.
O nome do jornal não poderia ser outro: "Aquário"...
E na apresentação do primeiro número à diretora então censora, não faltou a
interrogação. Por que Aquário? A resposta estava na ponta da língua e era
deliciosamente falsa e adolescente: a época de aquário estava por se instalar e o jornal
era jovem, ora...
Petrópolis, 22 de junho de 1999.Envie sua história para [email protected] |