logopeq.GIF (1961 bytes)

O Caso do Patek Phillipe
Sérgio Luiz de Araujo Fonseca

 

Primeiro científico, 1975 ou 76.
Substância pura, mistura. Maria pediu um ovo. Bico de pato, formoso periquito, com ácido clorídrico não me meto. Sulfito dá sulfato, sulfato da sulfito.
O querido professor Bahiana, de Química, era mesmo uma figura. Implacável na distribuição de notas baixas, bom contador de casos... Disse uma vez ter sido,  aos seus 70 e muitos anos,  atropelado por um fusca. Se safou usando o guarda-chuva como alavanca de apoio. Como um gato, pulou sobre o carro. Excelente gosto na alocação das primeiras filas na sala de laboratório. Alunos em forma, meninas na frente. Ia selecionando a dedo as que considerava mais bonitas para que ocupassem as primeiras filas. Essas inclusive, tinham sempre o máximo de pontos de conceito e recebiam convites para eventos externos, palestras, convenções de que ele participava ou ia assistir. Depois vinham as demais e por último os representantes da classe masculina.
As meninas das primeiras filas pagavam porém um preço alto... tinham que assistir as aulas munidas de guarda-chuva...  :-).
Um belo dia, houve um alvoroço no colégio... o professor havia dado queixa do roubo de seu relógio Patek Phillipe, daqueles de bolso, com correntinha, imaginem só... 
O relógio sumiu após uma aula de química... alunos sob suspeita, promessas de suspensão, expulsão, de caso levado à polícia, constrangimento geral. Dias depois, o próprio professor achou seu relógio, trancado em seu próprio armário. Tinha colocado lá e esqueceu. Pedidos de desculpas, confusão desfeita.
Nesse mesmo ano, ele levou um monte de gente para a 2ª época, ao perguntar na prova sobre o processo da "ustulação da galena", coisa que jamais havia ensinado a ninguém.
Mas havia um outro professor Bahiana, que talvez poucos tenham conhecido. Quando eu e mais dois alunos fomos falar com ele que não estávamos conseguindo acompanhar as aulas e que seríamos reprovados, ele se propôs a nos dar aulas aos sábados pela manhã, graciosamente, em seu apartamento abarrotado de livros e papéis em Copacabana. Passamos de ano.
Tenho certeza que onde quer que esteja nesse universo, que tão bem conhece, ouvirá meu agradecimento.
Obrigado Professor.

Envie sua história para [email protected]