Primeiro
científico, 1975 ou 76.
Substância pura, mistura. Maria pediu um ovo. Bico de pato, formoso periquito, com ácido
clorídrico não me meto. Sulfito dá sulfato, sulfato da sulfito.
O querido professor Bahiana, de Química, era mesmo uma figura. Implacável na
distribuição de notas baixas, bom contador de casos... Disse uma vez ter sido, aos
seus 70 e muitos anos, atropelado por um fusca. Se safou usando o guarda-chuva como
alavanca de apoio. Como um gato, pulou sobre o carro. Excelente gosto na alocação das
primeiras filas na sala de laboratório. Alunos em forma, meninas na frente. Ia
selecionando a dedo as que considerava mais bonitas para que ocupassem as primeiras filas.
Essas inclusive, tinham sempre o máximo de pontos de conceito e recebiam convites para
eventos externos, palestras, convenções de que ele participava ou ia assistir. Depois
vinham as demais e por último os representantes da classe masculina.
As meninas das primeiras filas pagavam porém um preço alto... tinham que assistir as
aulas munidas de guarda-chuva... :-).
Um belo dia, houve um alvoroço no colégio... o professor havia dado queixa do roubo de
seu relógio Patek Phillipe, daqueles de bolso, com correntinha, imaginem só...
O relógio sumiu após uma aula de química... alunos sob suspeita, promessas de
suspensão, expulsão, de caso levado à polícia, constrangimento geral. Dias depois, o
próprio professor achou seu relógio, trancado em seu próprio armário. Tinha colocado
lá e esqueceu. Pedidos de desculpas, confusão desfeita.
Nesse mesmo ano, ele levou um monte de gente para a 2ª época, ao perguntar na prova
sobre o processo da "ustulação da galena", coisa que jamais havia ensinado a
ninguém.
Mas havia um outro professor Bahiana, que talvez poucos tenham conhecido. Quando eu e mais
dois alunos fomos falar com ele que não estávamos conseguindo acompanhar as aulas e que
seríamos reprovados, ele se propôs a nos dar aulas aos sábados pela manhã,
graciosamente, em seu apartamento abarrotado de livros e papéis em Copacabana. Passamos
de ano.
Tenho certeza que onde quer que esteja nesse universo, que tão bem conhece, ouvirá meu
agradecimento.
Obrigado Professor.
Envie sua
história para [email protected] |