Esta é uma cronica que foi
escrita no ano de 2002 para participar de um concurso promovido pelo jornal "Folha de
São Paulo". Infelizmente não foi selecionada, mas neste site do Liceu ela terá um
significado mais abrangente.

"Na Ponta da Língua"
nunca existiu...
Miriam Sapir Siag Landa
O
ano? Ah! Lá pelos idos de 1955,1956... Mas hoje, do alto dos meus 58 anos, posso afirmar,
era um professor de vanguarda!!!
Livro didático... Nem pensar, ele mesmo
elaborava as apostilas de exercícios, isto numa escola de elite e tradicional, onde a
palavra apostila era quase uma desconhecida.
Chegava na classe descontraído, risonho,
aproximando-se cada vez mais, estreitamente, dos alunos através de sua jovialidade. Sim
pois era muito jovem, quem sabe recém saído da universidade. Conseguiu impor sua moderna
didática neste seu, talvez, primeiro emprego.
Nada acontece por acaso, meu amor e
respeito pela Língua Portuguesa está diretamente ligado a este professor, cuja voz firme
e carinhosa vibra até hoje em minha memória.
"Vamos fazer a pergunta ao
verbo". Sempre se dirigia a classe no coletivo, quase nunca individualmente a um
aluno.
Este "que" do período... Que
função vocês acham que tem? Ressaltava então o conceito certo, sem desmerecer
ninguém, simplesmente ensinando crianças a pensar, raciocinar e assim aprendíamos a
enfadonha análise sintática.
Éramos crianças de 11, 12 anos no
máximo. Estávamos mais para brincadeiras do que para as famosas decorebas da época. Ele
então percebeu, organizava maratonas da Língua Portuguesa entre as classes e
transformava semestralmente o evento num grande acontecimento no auditório da escola.
Ah! Saudades das maratonas onde nós nos
sentíamos participantes de um programa de auditório, e ele quem sabe, não estivesse se
sentindo o proprio "talk show man"! O empenho dos alunos era grande, a vontade
de brincar e competir só contribuía para engrandecer o aprendizado... Hoje este tipo de
atividade não causa estranheza, mas estamos falando de quase meio século atrás...
PROFESSOR JÚLIO era tão querido, que
quando nasceu sua primeira filha, nossa classe conseguiu fazer uma "vaquinha"
com as parcas economias de nossas mesadas e compramos uma pulseirinha para a menina. Com
que carinho este presente foi dado e com quanta emoção e gratidão foi recebido...
Éramos pequenos mas já percebíamos estes detalhes.
PROFESSOR JÚLIO STROSBERG, do Liceu Franco
Brasileiro, Rio de Janeiro, você foi realmente um vanguardista naquele ambiente "pra
lá" de tradicional... Onde quer que você (hoje já posso usar este tratamento)
esteja, o meu muito obrigado!
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