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CARTA ENVIADA PELO PRIMEIRO COMANDANTE DO NPF PEDRO TEIXEIRA

CMG CUNHA LIMA

Durante a construção...

Quinta-feira, 17 de Dezembro de 1998 08:48 Para: Comando da Flotilha do Amazonas De: Ricardo J. da Cunha Lima Paginas: 1 of 1

Sr. Comandante da Flotilha do Amazonas
Sr. Comandante do NPaFlu Pedro Teixeira
Sr. Comandante do NPaFlu Raposo Tavares

Assunto: Jubileu de Prata dos NPaFlu classe Pedro Teixeira

Prezados Srs.

Recebi hoje o amável convite a mim enviado para participar das comemorações do Jubileu de Prata dos NPaFlu classe Pedro Teixeira.

Sinto não poder comparecer. Entretanto, fico muito satisfeito por Ter sido lembrado, depois de passados tantos anos de minha estada em Manaus. Felizmente para nós da reserva, a fidalguia da Marinha se mantém e eu felicito por isso.

Parece Ter sido ontem quando com meu colega de turma Celso assumimos as funções de Encarregados dos Grupos de Recebimento dos NPaFlu Pedro Teixeira e Raposo Tavares, respectivamente. Foi um período difícil. Por força dos prazos, os navios começaram a ser construídos antes de se dispor dos planos definitivos. A construção naval estava adormecida há anos. Assim, nossos navios foram perfeitas cobaias para nossos colegas engenheiros e para os técnicos que tinham pouca ou nenhuma experiência de construção. Para se Ter uma idéia, boa parte da rede elétrica foi instalada seguindo especificações dos velhos Contratorpedeiros da classe "A". Como os planos da rede elétrica ainda preliminares, os cabos finos de alimentação final dos aparelhos foram passados nas calhas em primeiro lugar, antes dos subalimentadores e alimentadores. Isso nunca permitirá a substituição de nenhum deles. A rede de esgoto, também apresentou um problema de difícil solução. Já na Amazônia nunca conseguimos usá-la com sucesso. Ora as válvulas de pé emperravam, ora formava vácuo na linha. Tivemos dois acidentes sérios nos dois anos de comando e fomos forçados a usar de artifícios para esgotar os compartimentos alagados. Num deles, tivemos que desmontar a bomba de esgoto elétrica, tornear um flange na hora para conectar a bomba ao mangote de querosene de aviação que, por sua vez, foi enfiado pelo tubo sonda para permitir o esgoto do tanque de lastro de Bravo Um. Imaginem nosso estado de espírito. O segundo, foi o completo alagamento do compartimento da máquina do leme, naturalmente de madrugada, com o navio em viagem. Graças a deus as caixas de junção estavam bem vedadas e o motor da máquina do leme era realmente blindado. Tivemos de usar a bomba Godiva e um edutor para fazer o esgoto. Poderíamos passar meses falando de nossas dificuldades iniciais. Houve lances muito engraçados e outros nem tanto. Aprendemos a bessa.

Não vejam o que digo acima como crítica ao AMRJ ou a seu pesssoal. São ossos do ofício. Não basta sair diplomado da Escola Naval ou de uma universidade. Os pulos-do-gato são aprendidos ao longo de anos de experiência. Naturalmente eu não pensava assim durante meu comando. Se o AMRJ tivesse mãe...

Basta de prosa. A gente vai ficando velho e as reminicências brotam. A saudade é grande.

De qualquer forma, fico orgulhoso em ver que os navios que o Celso e eu ajudamos a projetar e construir e dos quais fomos os comandantes de provas e finalmente primeiros comandantes no mar e nos rios ainda levam a bandeira do Brasil por essa imensa Amazônia. O Pedrinho foi o meu quarto filho e sempre por mim lembrado.

Mais uma vez agradeço a consideração e me congratulo com todos, Comandantes, Praça D'Armas e Guarnições pela passagem do 25º aniversário dos Navios-Patrulha. Que Deus os guarde.

Nova Friburgo, RJ em 16 de dezembro de 1998.

Ricardo José da Cunha Lima
CMG (RRm)
Encarregado do grupo de Recebimento
e primeiro Comandante do NPaFlu Pedro Teixeira

Fonte: Livro do Estabelecimento do Comando da Flotilha do Amazonas

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