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THE UNITED STATES NAVAL WAR COLLEGE

Departamento de Operações

Extraído de

LIÇÕES APRENDIDIDAS COMANDO, CONTROLE E COMUNICAÇÕES:

ATAQUE À LÍBIA

por Coronel Stephen E. Anno e Tenente Coronel William E. Einspahr

Capítulo V "LIBIA RAID"

Reimpressão do LIÇÕES APRENDIDAS COMANDO, CONTROLE E COMUNICAÇÕES, ATAQUE À LÍBIA por Coronel Stephen E. Anno e Tenente Coronel William E. Einspahr, AIR WAR COLLEGE

Relatório de pesquisa, No AU-AWC-88-043, Universidade da Força Aérea Norte/Americana, Maxwell AIR FORCE BASE, ALABAMA, pp., 36-63.

SO-20

 

CAPÍTULO V

ATQUE À LÍBIA

 

Ao final da noite de 15 abril e começo de manhã de 16 do mesmo mês de 1986, sob o nome código "El Dorado Canyon", os Estados Unidos lançaram uma série de ataques aéreos militares contra alvos terrestres na Líbia. A cronologia do ataque foi tal que, enquanto algumas aeronaves de ataque ainda voavam, o Presidente Reagan teve tempo para se dirigir à opinião pública norte-americana e mundial [obviamente para dizer o que estava em andamento]. Ele enfatizou que aquela ação era uma questão de autodefesa dos EUA contra o terrorismo estatal patrocinado pela Líbia. Em parte, ele declarou, "autodefesa não é somente nosso direito, é nosso dever. Esse é o propósito por trás da missão... uma missão completamente consistente com Artigo 51 da Carta da ONU."{l}

O uso da força foi especificamente incitado pelo que o Presidente reivindicou como "prova irrefutável" que a Líbia tinha dirigido o atentado terrorista em uma discoteca em Berlim Ocidental nove dias antes, que tinha matado um americano e feridos 200 outros.{2}

O ataque foi programado para atingir diretamente a habilidade de Gaddafi para exportar terrorismo com a convicção de que tal ataque antecipado poderia prover "incentivos e razões para alterar seu comportamento criminoso." Os objetivos finais do ataque foram selecionados no nível do Conselho de Segurança Nacional "dentro do círculo dos assessores do Presidente."{3} Finalmente, foram selecionados cinco objetivos:

Todos, exceto um desses objetivos, foi escolhido por causa da sua conexão direta com a atividade terrorista. A única exceção foi o aeródromo militar de Benina, onde se baseavam os caças líbios. Esse objetivo foi atacado para prevenir que as aeronaves de interceptação líbias pudessem atacar os bombardeiros norte-americanos, durante a sua aproximação.{5} Note-se que, apesar de não se constituírem em alvos, a Embaixada francesa em Trípoli e vários edifícios residenciais vizinhos também foram atingidos inadvertidamente durante esse ataque.{6}

Os planejadores da missão decidiram, como parte do esforço para conseguir a surpresa tática, bater todos os cinco objetivos simultaneamente. Tal decisão teve um impacto crucial em quase todo o contexto da operação, uma vez que os recursos disponíveis da Marinha norte-americana não podiam executar unilateralmente a missão.{7} Os únicos dois tipos de aeronaves no inventário dos EUA capazes de conduzir um ataque noturno preciso eram os A-6s da Marinha e os F-111s da Força Aérea. Durante o planejamento, a Marinha dispunha de dois navios aeródromos no mediterrâneo: O América e o Mar de Coral. Cada um deles com dez aeronaves A-6, mas que não perfaziam o total de 32 aeronaves estimadas como necessárias para atingir, com sucesso, todos os cinco objetivos em um [único] ataque. Os F-111s mais próximos estavam baseados no Reino Unido (UK); e o uso destas aeronaves afetariam significativamente o escopo e a complexidade da operação. O planejamento foi agravado quando o governo francês recusou o sobrevôo dessas aeronaves pelo território da França. Tal recusa aumentou a distância da rota de vôo da Grã Bretanha para Trípoli cerca de 1300 milhas náuticas em cada rota, somou de 6 a 7 horas de vôo para pilotos e tripulações e forçou um significativo aumento de apoio de reabastecimentos [REVO], a partir de reabastecedores.{8}

O tamanho da configuração final de força de ataque era imenso e complexo. Aproximadamente 100 aeronaves foram lançadas em apoio direto à invasão:

 

FORÇA AÉREA

28 aeronaves de reabastecimento KC-10 e KC-135, 5 aeronaves EF-111 Raven ECM (contramedidas eletrônicas), 24 aeronaves de ataque FB-111 (seis das quais transportavam sobressalentes, retornando à base após o reabastecimento inicial).

 

MARINHA

14 aeronaves de ataque A-6E, 12 aeronaves de guerra eletrônica e interferidoras A-7E e F/A-18, que empreenderam a supressão da defesa aérea para a ação de várias aeronaves Tomcats F-14, que assumiram a responsabilidade pelas patrulhas áreas de combate (PAC), 4 aeronaves E-2C Hawkeye de comando e controle aeromóvel e aeronaves de alerta.

Além dos meios supra, vários helicópteros foram desdobrados para possíveis operações de busca e salvamento e "50-80 mais aeronaves nas vizinhanças dos navios aeródromos cerca de 150 a 200 milhas da costa."{9} De fato, o tamanho total da força foi criticado como excessivo a partir de várias fontes. De um modo geral, toda a operação envolveu (até certo ponto) "mais aeronaves e navios de combate do que a Inglaterra empregou durante toda a sua campanha nas Falklands."{10}

As primeiras aeronaves a decolarem da Grã-Bretanha foram os 28 reabastecedores, seguidos de perto pelos F/EF-111s. Quatro reabastecimentos e várias horas depois, essas aeronaves sobrevoavam a ponta da Tunísia e estavam integradas à força aeronaval por um oficial da Força Aérea embarcado em um reabastecedor KC-10, que tinha sido modificado para também funcionar como um centro de coordenação de comando aeromóvel [aerotransportado].

Embora conjunta por natureza, a execução do ataque era operacional e geograficamente dividida entre a Marinha e Força Aérea. Os A-6s da Marinha foram designados para o objetivo na área de Benghazi, e os F-111s da Força Aérea atacaram os outros três objetivos nas redondezas de Trípoli. Na verdade, o combate iniciou às 0200 (hora local da Líbia), durou menos de 12 minutos e consumiu 60 toneladas de munições. Apesar de o planejamento, a coordenação e o controle exigirem que fossem criados esses 12 minutos de combate, eles começaram muito mais cedo e exigiram arranjos cuidadosos e detalhados.

 

Comando e Controle

A filosofia de comando e controle empregada em uma operação pode ser fundamental para o seu sucesso. "Comando local sempre foi importante, embora tendamos a perder isso de vista, às vezes."{11} Por exemplo, nos ataques aéreos da Marinha de 1983 no Líbano, um General do Exército na Europa sob pressão dos EUA, provocou o Comandante na cena de ação a lançar ataques "no tempo errado e com as armas erradas."{12} No caso de El Dorado Canyon, todo esforço foi feito para prover o Comandante da cena de ação plena autoridade para tomar todas as decisões necessárias. O Almirante Crowe, Presidente do "Joint Chief of Staff" (JCS), descreveu sucintamente sua teoria de comando e controle de "não-interferência": "você apenas trava seus dentes e fica completamente fora disto."[o que equivale a dizer, mesmo que você queira não se meta nas decisões do seu subordinado]{13}

O Comandante da Sexta Frota da Marinha norte-americana localizada no Mediterrâneo, Vice-Almirante Frank Kelso, foi designado como Comandante comum de toda a operação. De acordo com a filosofia do Almirante Crowe, a esse Comandante da cena de ação [Comandante tático] foi atribuído o comando e o controle da operação. A ele foi atribuída a tarefa e o prazo para atacar; "era, então, sua responsabilidade juntar essas duas coisas." {14} Entretanto, ele também tinha plena autoridade e flexibilidade para lidar com qualquer contingência variante ou mudanças no ambiente do ataque.{15} De fato, o Vice-Almirante Kelso tinha autoridade unilateral para "cancelar o ataque até o momento em que as condições meteorológicas e os fatores operacionais pudessem ser um problema."{16} Como medida efetiva de comando e controle, o Almirante Crowe indicou que o ataque poderia ser cancelado até 10 minutos antes da sua execução.

O conceito de não-interferência com o comando e o controle parece ter descido por toda a cadeia de comando, em graus variados. Um diagrama formal dos arranjos de comando e controle poderiam parecer complexos; refletindo linhas de controle operacionais, responsabilidades de controle tático, canais de coordenação vertical/lateral, cadeias dos relatórios [fluxos a serem seguidos] etc. Porém, na prática, foram usados os canais normais já existentes no Comando Europeu (EUCOM). Cada serviço [no sentido de armas e serviços; por exemplo: Marinha e Força Aérea] fez seu próprio "weaponeering" e planejamento para a área operacional ["weaponeeing" é o processo de determinar a quantidade de um tipo específico de arma letal ou não-letal necessária para se obter um específico nível de dano em um determinado alvo, considerando a vulnerabilidade do alvo, efeito desejado sobre o alvo, eficácia da munição, critérios de danos, probabilidade de destruição e confiança na arma].{17} Quase todo o planejamento detalhado desceu ao nível unidade. Ordens iniciais de advertência para um possível ataque contra a Líbia foram emitidas às várias organizações designadas para a missão, no final de dezembro de 1985.{18} "A natureza das tarefas dessa contingência seriamente limitou sua colaboração [dos quartéis-generais dos mais altos escalões]."{19} Certamente, havia uma compreensível relutância dos oficiais do Estado-Maior que não voariam nessa missão, para tomar decisões firmes no lugar daqueles que o fariam.{20} Além disso, havia um significativo fluxo de investigações e orientações dirijas às unidades designadas para a missão.

A preparação para a operação requereu ensaios limitados e reais, e exercícios com a Marinha e com as forças de reabastecedores. Um esforço específico foi destinado à prática do encontro dos F-111s em uma área de reunião afastada com os reabastecedores. Embora essa prática tenha sido razoavelmente bem executada, foi decidido, ao final, evitar as complexidades do comando, controle e comunicações, que tal área de reunião poderia criar e simplesmente os caças deveriam acompanhar os reabastecedores ao longo de toda a rota.{21} Além disso, foi rapidamente descoberto que o vernáculo da Marinha e da Força Aérea diferiam acentuadamente. Em conseqüência, foram trocados oficiais de ligação entre as organizações da USAF e com a Marinha para facilitar o planejamento e a coordenação. Por exemplo, a Força Aérea proveu um experiente piloto para integrar o EM da Marinha durante o ataque; a Marinha também desdobrou um oficial similarmente qualificado para integrar a estrutura de comando abordo da aeronave KC-10 de Comando.{22}

Como anteriormente mencionado, a verdadeira área de operações foi dividida, com a Força Aérea ficando com Trípoli e a Marinha com aqueles alvos na área de Benghazi. Esta divisão de responsabilidade era, em grande, feita para simplificar e evitar conflitos de comando e controle dos aspectos operacionais do ataque. O reabastecedor KC-10 modificado foi encarregado dos meios da Força Aérea, enquanto o navio aeródromo América controlou as aeronaves da Marinha. Os E-2C Hawkeyes aerotransportados proveram alarme antecipado, controle de vetores aéreos e operações.

Relatórios "up-channel" foram minimizados [esses relatórios trafegam nos canais de alta prioridade, normalmente os relatórios mais importantes, contendo informações sensíveis e que demandem decisões rápidas]. Na realidade, o General Donelly, Comandante-em-Chefe das forças aéreas norte-americanas na Europa, determinou que não haveria classificação prévia para os relatórios imposta para esse ataque.{23} Nitidamente, a duração relativamente curta do ataque teria impedido qualquer estrutura formal para classificar os relatórios, em que pese a vontade dos quartéis-generais de mais alto nível [tendência a burocracia]. Entretanto, relatórios periódicos dos resultados preliminares eram essenciais por, pelo menos, duas razões. Primeiramente, o Presidente Reagan apareceu em cadeia nacional de televisão para discutir a invasão com o público; [para isso] ele precisou, pelo menos, de um pouco de informação de como a operação transcorria. Em segundo lugar, e mais tragicamente, uma aeronave e seus dois tripulantes foram perdidos durante o combate. Suas famílias tinham que ser notificadas, antes do comunicado à imprensa sobre essa informação. Esses "up-channel" relatórios parecem ter sido conduzidos, em sua maior parte, informal e verbalmente, utilizando-se os sistemas de comunicação já estabelecidos.

 

Comunicações

Sistemas de comunicação eram uma parte integrada do El Dorado Canyon desde seu início até a sua conclusão. De fato, pode-se afirmar que as comunicações proveram o ímpeto para a decisão do Presidente de autorizar o ataque, especificamente, a intercepção pela inteligência norte-americana de uma mensagem de Gadaffi, ordenando um ataque aos norte-americanos "para causar o máximo e indiscriminadas baixas."{24} Outra fonte de comunicações, uma mensagem líbia interceptada, denunciava o ataque que estava sendo planejado em Berlim Ocidental.{25} A significância das comunicações veio, posteriormente, à tona, somente quando era necessária uma chamada segura, do QG do "Special Air Command" (SAC) em Omaha para o REINO UNIDO, momentos antes da decolagem, apenas para confirmar que uma missão estava sendo conduzida. Aparentemente, a ordem de execução era pessoalmente conduzida, por motivos de segurança, para a maioria das organizações que receberam tarefas. Não tinham sido notificados os representantes dos reabastecedores no QG SAC que uma grande parcela dos seus meios estavam prestes a decolar em apoio ao ataque.{26} Além disso, cinco minutos antes do ataque real, aeronaves [de guerra eletrônica] interferidoras entraram na Líbia para [neutralizar] romper sistemas de radar e de comunicações.{27} A supressão dessas comunicações foi considerada fundamental para o sucesso da missão. De fato, uma das razões para que a aeronave EA-6 da Marinha fosse empregada era porque os EF-111s não podiam interferir em uma das bandas de freqüências líbias.{28} Um exemplo final da importância extrema dada às comunicações [inimigas] foi aquele em a aeronave de ataque estava "atrasada ao deixar um reabastecedor". Ele abortou a missão, porque, àquela altura, ele estaria fora da seqüência e da cronologia do resto da força de ataque, e à noite e sem comunicações (devido a procedimentos de silêncio-rádio), o piloto "não acreditava que pudesse entrar [na formatura]."{29}

A rede de comunicações utilizada para a invasão evoluiu ao longo da fase do planejamento. No início do planejamento da Operação El Dorado Canyon, as instalações de comunicações fixas existentes eram os meios básicos de comunicações. Durante a execução da operação, as comunicações das aeronaves tornaram-se os meios predominantes para a manutenção do comando e controle. Ainda que as comunicações, em geral, fossem boas, havia problemas e deficiências.

Avultava de importância, durante as ações iniciais de planejamento, a disponibilidade de [equipamentos de] comunicações, por voz, seguras ["hot lines" ou "red phones"]. Infelizmente, o acesso a essa rede era extremamente limitado no nível unidade. A maioria das bases da Força Aérea somente possuíam um telefone seguro para apoiar toda a base. O fato de que nem todos os telefones seguros eram compatíveis, contribuía para agravar o problema. Por vezes, os planejadores tinham que se deslocar até outra instalação, ou mesmo até uma instalação geograficamente distante, para conduzir suas ações por meio de telefones seguros.

Como era de se esperar, havia grande necessidade de comunicações [para uso na atividade] de inteligência. Planejamento da seleção de alvos e de armas apropriadas para atacá-los eram fundamentais para o sucesso da missão. Localizações múltiplas necessitavam extensivamente de fotografias seguras e outros equipamentos de imagens. O "Intratheater Imagery Transmission System" (IITS) era bastante empregado pela comunidade de inteligência norte-americana na Europa. Entretanto, terminais de IITS não estavam disponíveis em todos os locais envolvidos com o planejamento do ataque. Acrescente-se que o grande volume de informação excedeu a capacidade do sistema. Por isso, vôos regulares de 2 a 3 vezes por semana eram necessários para disseminar as informações. Nos três meses e meio entre a notificação inicial e a execução do ataque, 12,000 fotos e imagens foram conduzidas pessoalmente a pelo menos três locais separados. O IITS provou ser particularmente indispensável e eficiente na distribuição, a tempo, de material sensível.{30}

A estrutura de comando e controle foi, basicamente, apoiada por comunicações por sistemas de satélite (SATCOM). Duas redes SATCOM foram usadas para interligar Washington, EUCOM, USAFE, a Sexta Frota e a ala de F-111 em Lakenheath. Além disso, comunicações extras foram implementadas em um reabastecedor KC-10 para criar um comando aeromóvel com limitada capacidade de comando e controle. Um terminal SATCOM foi instalado para contatar o Comandante-em-Chefe (localizado no navio aeródromo América), assim como os demais altos QG, conforme necessário. O terminal SATCOM não faz parte da capacidade orgânica do KC-10 e o equipamento foi, literalmente, posto no corpo principal da aeronave, tendo sido amarrando a uma mesa; contudo, esse era o meio principal de comunicações entre o Comandante das forças aéreas e o Vice-Almirante Kelso.{31}

Os exercícios conjuntos com a Marinha e as missões de treinamento com o SAC rapidamente realçaram outra área com problemas de interoperabilidade. Especificamente, os caças da Força Aérea F-111 possuíam equipamentos rádio "Have Quick" com salto de freqüência em UHF. Porém, nem os reabastecedores da USAF nem qualquer outra aeronave da Marinha tinha esses tipos de rádios compatíveis. Os rádios foram instalados nos reabastecedores antes da missão, mas não estavam disponíveis para as aeronaves da Marinha. Esta situação tinha, indubitavelmente, que ser considerada no uso racional [dos equipamentos] para a divisão geográfica da área de operações [entre a Marinha e a Força Aérea].

A operação foi conduzida em silêncio-rádio (pelo menos pela maior extensão/duração possível). Todos os quatros reabastecedores, na rota para seus alvos, desempenhavam suas ações sem comunicações, assim como o fizeram durante o ataque. De fato, foi criada uma preocupação entre os pilotos, porque não havia nenhuma palavra-código estabelecida para confirmar o andamento do ataque. Forneceu-se somente um código para abortar o ataque. Essa situação era problemática, uma vez que várias coisas poderiam ter alterado durante as seis/sete horas de vôo do REINO UNIDO para a Líbia. Acrescente-se que as comunicações limitadas causaram problemas de ligação entre os caças de retaguarda com os reabastecedores depois a saída desses caças da zona de combate. Isto gerou um óbice posterior, devido a um caça que se perdeu durante o ataque. Todos os meios navais da Armada permaneceram nas redondezas por pouco mais de uma hora, tentando "prestar contas de" / contabilizar todas as aeronaves [ter certeza de que todas as aeronaves regressaram das suas respectivas áreas de ataque].{32}

Às vezes, equipamentos fixos de alta freqüência (HF), localizados no SAC em Mildenhall, REINO UNIDO, foram usados para confirmar o número de aeronaves que tinham regressado da zona de ataque.

Por fim, um determinado aspecto das comunicações merece menção específica. É o que se refere à interface entre os caças da Força Aérea e os da força de Busca e Salvamento da Marinha (Search and Rescue - SAR). Essa interface era tênue. Aparentemente, devido à distância do REINO UNIDO, os planejadores da USAF, inadvertidamente, negligenciaram a elaboração de arranjos para as operações SAR.{33} Procedimentos específicos para contatos e o trabalho com o esforço SAR da Marinha não tinham sido elaborados ou [sequer] exercitados. Essa deficiência avultou ao se tentar localizar o F-111 perdido.

 

Lições AprendIDAS

O Almirante Crowe comentou depois da invasão que "não fizemos tudo direito..." mas "eu não vejo nenhuma ação militar que não possa ter defeitos,"{34} analisando a situação, a missão na Líbia "teve muito êxito."{35} Talvez o grande sucesso alcançado deva-se simplesmente ao fato de que os equipamentos e procedimentos de comando, controle e comunicações, nunca foram exigidos ao máximo durante o ataque; não havia resistência fora da área do ataque. Não foram empregadas as aeronaves de defesa aeroespacial líbias; a falta de uma palavra-código para a execução do ataque poderia ter causado uma grande confusão. Além disso, toda a força de reabastecimento permaneceu altamente vulnerável, enquanto conduzindo a ligação [para o REVO] pós-ataque com os caças. Pode-se inferir que interceptadores líbios poderiam ter causado elevada destruição nesse alvo altamente compensador [todas essas aeronaves reunidas para o reabastecimento após o ataque]. Entretanto, mesmo sem resistência dirigida para a estrutura de comando, controle e comunicações, os problemas apareceram. A área de ação foi dividida, em face das dificuldades de interoperabilidade: aeronaves da Marinha não possuíam os equipamentos rádios "Have Quick", a terminologia e os procedimentos variavam significativamente e as operações SAR não foram completamente coordenadas ou [sequer] eram familiar aos pilotos da Força Aérea.

A primeira lição é clara. Há necessidade de maior unificação [uniformização] entre os serviços [Marinha e USAF]. Um dos resultados da análise do ataque à Líbia foi a criação de um Procedimento Operativo do JCS (MOP) 191 datado de 14/5/87, que sugere a realização de periódicos exercícios "no-notice" [sigilosos ou sem registro?] de interoperabilidade entre os serviços.

Em segundo lugar, planejamento em nível unidade pode ser fundamental para o sucesso da missão. Três meses e meio foi um tempo limitado, mas essencialmente adequado para ensaiar e praticar os procedimentos. Ainda restam algumas áreas de interface negligenciadas. É essencial que procedimentos básicos devam ser estabelecidos e praticados como um modo normal de inter-relacionamento entre todos os serviços ou, pelo menos, uma familiarização com os outros serviços, antecedendo a uma crise. Além disso, os planejadores em nível unidade/ala precisam de um conhecimento sobre o funcionamento das capacidades de comando, controle e comunicações existentes. Quando o escopo da missão foi ampliado, o pessoal em nível unidade apresentou-se por certo tempo constrangido e, conseqüentemente, incapaz de avaliar a prudência de se empregar os E-3 AWACS adequadamente (versus o adaptado KC-10) como o posto de comando aeromóvel. Um dos planejadores de ala operacional dos F-111 ressaltou que "se ele soubesse à época o que ele aprendeu desde então..." ele teria concluído que os AWACS eram a ferramenta apropriada para o comando e controle da Força.

Em terceiro lugar, uma cadeia de comando curta e simples e a delegação máxima de autoridade no nível operacional mais baixo foi novamente validada. O Vice-Almirante Kelso teve autoridade total para executar ou encerrar a missão.

Em quarto lugar, um status de estrutura de relatórios "up-channel" foi essencial para manter os superiores informados. Era também fundamental prover uma estrutura que pudesse apoiar a habilidade do Presidente ou de outros superiores para prover orientação definitiva [de última hora] ou uma direção fundamentada em situações políticas variáveis. O ponto de equilíbrio deve estar em decisões operacionais táticas que fundamentem a visão do Comandante da cena de ação.

Como quinta lição, a fase de planejamento da operação claramente indicou a necessidade de um sistema expandido de distribuição de dados [obtidos e analisados pela inteligência]. Também foram exigidos pessoal de ligação de inteligência e de armamento para apoiar o nível de análise de unidade/ala. O fator tempo e as múltiplas contingências podem impedir o desenvolvimento de tais habilidades no futuro. Em adição, em uma operação verdadeiramente conjunta, o fluxo cruzado de inteligência entre os serviços pode vir a ser fundamental.

Como sexta e última lição, nessa operação, os técnicos de comunicações tiveram tempo para equipar e reconfigurar o "hardware" para fazer os meios de guerra aéreos interoperacionais e, conseqüentemente, eficazes. O tempo para instalar ou construir uma capacidade de comunicações não pode ser parte de operações de reação rápidas. As capacidades de interoperabilidade estabelecidas têm que existir e estar prontas para ir diariamente para guerra.

 

 

QUESTIONÁRIO

ATAQUE À LÍBIA

1. Um dos alvos selecionados na operação "El Dorado Canyon" não possuía correlação direta com a atividade terrorista da Líbia. Assim sendo, qual era esse alvo e o propósito do seu ataque?

R. Todos, exceto um desses objetivos, foi escolhido por causa da sua conexão direta com a atividade terrorista. A única exceção foi o aeródromo militar de Benina, onde se baseavam os caças líbios. Esse objetivo foi atacado para prevenir que as aeronaves de interceptação líbias pudessem atacar os bombardeiros norte-americanos, durante a sua aproximação.

 

2. A recusa do governo francês em permitir o sobrevôo de seu território pelas aeronaves da US Air Force baseadas no Reino Unido, engajadas na operação "El Dorado Canyon", não só impôs limitações ao planejamento, como também, aumentou a sua complexidade. Como os planejadores da operação contornaram essa limitação, fruto da restrição imposta pelo governo francês?

R. Tal recusa aumentou a distância da rota de vôo da Grã Bretanha para Trípoli cerca de 1300 milhas náuticas em cada rota, acrescentou de 6 a 7 horas de vôo para pilotos e tripulações e forçou um significativo aumento de apoio de reabastecimentos em vôo [REVO].

 

3. A operação "El Dorado Canyon" contaria com a participação de meios aéreos da US Navy e da US Air Force. Entretanto, no seu período de planejamento, verificou-se a grande divergência entre a fraseologia operativa utilizada pelas duas forças. Como esse problema foi solucionado pelos planejadores?

R. Com a troca de oficiais de ligação entre as unidades da USAF e da Marinha para facilitar o planejamento e a coordenação. Por exemplo, a Força Aérea proveu um experiente piloto para integrar o EM da Marinha durante o ataque; a Marinha também desdobrou um oficial com a mesma qualificação para integrar a estrutura de comando abordo da aeronave KC-10 de Comando.

 

4. Que limitação foi verificada nos meios aéreos da US Air Force, utilizados na operação "El Dorado Canyon", que serviram como uma das razões para o emprego de aeronaves EA-6 "Prowler" na operação?

R. Uma das razões para que a aeronave EA-6 da Marinha fosse empregada era porque os EF-111s não podiam interferir em uma das bandas de freqüências líbias.

 

5. O resultado da análise sobre a operação "El Dorado Canyon" implicou na criação de que tipo de documento, no sentido de ampliar a padronização dos procedimentos operativos entre as Forças?

R. Military Operational Procedure (MOP) ou Procedimento Operativo Padronizado (POP) do Joint Chief of Staff (JCS) Nr 191 de 14/5/87.